Autoconhecimento: aceitação ou recusa?

O processo de desenvolvimento humano necessariamente inicia-se pelo autoconhecimento. O autoconhecimento permite um encontro com a própria história, seu lado luz representado pelas competências, qualidades e integração consigo e com o outro e o lado sombra, definido pelas limitações, dificuldades, desintegração do eu e das relações estabelecidas.

Para se chegar ao autoconhecimento é exigido o compromisso de voltar o olhar para si e aventurar-se nessa jornada de descobertas.

Percebo que nem sempre essa tarefa é simples e rotineira, já que olhar para si muitas vezes é descobrir um Eu incompleto, com disfunções na área do afeto, do reconhecimento, da segurança, da aceitação, do poder, etc.

Outras vezes o caminho do autoconhecimento descortina as influências externas de um passado, que criaram percepções de realidade e crenças que determinam os posicionamentos na vida. As crenças limitantes que doem na alma e são carregadas ao longo da existência na verdade não passam de distorções de realidade. Quando vistas de outro lado, possibilitam interpretações diferenciadas e as libertam para viver uma vida mais plena. Certa vez um participante de um treinamento alegava a falta de afeto do pai, quando na verdade o pai demonstrava de outras formas e por diversas vezes o carinho e reconhecimento pelo filho, porém, essa atitude não era percebida porque o participante criou uma crença limitante e única do que seria o “verdadeiro afeto”, não se abrindo para reconhecer as outras manifestações e formas de receber afeto. Reclamava que não tinha o que mais recebia a todo momento, só que de forma diferente.

O encontro com o espelho(autoconhecimento) pode ser libertador mas para isso a aceitação da realidade é fundamental. Quando isso acontece, é como se você pegasse a sua história no colo e olhasse para ela com interesse e acolhimento, para poder reelaborar e desenvolver.

O processo de identificar e acolher o lado luz é mais ameno e prazeroso, vem à tona com mais facilidade.

Ao contrário, quando o lado sombra está em primeiro plano, alguns recusam esse encontro e fogem de tais descobertas, agindo com racionalizações e defesas(justificativas que reforçam a crença – luta contra a realidade) ou negações(fuga da realidade). É comum ouvir que “acho que não tem muito a ver para mim aquilo que foi dito não” ou “ eu ajo assim com o outro é porque se não fizer, ninguém mais vai fazer tão bem”. Defender-se das limitações da própria história é ancorar-se no caos estruturante e na zona de conforto. Muitas vezes é melhor não mexer no próprio baú da existência para não levantar a poeira dos desejos e das mazelas que existem no lado sombra da vida. Mas se isso não for feito, corre-se o risco de viver sem existir em sua plenitude. A coragem de dar de cara com a escuridão e enfrentá-la é o que permitirá ver a luz um dia.

Na dor e na dificuldade há possibilidades incríveis de aprendizagem e desenvolvimento, basta querer encarar a vida, não ter medo de sua própria história, acolher aquilo que realmente é, para que possa desenhar o seu destino e definir quem você poderá se tornar.

 

Willer Mamede

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